sábado, 27 de junho de 2009

Por um domingão contra o Faustão!



Para quem tem acesso a TV Futura, domingo 14h.

http://www.futura.org.br/main.asp?View={D2EF690E-49AB-498F-9011-7957E4D9F702}&Team=¶ms=itemID={E2599E8C-22EE-4A81-8F97-B5AC5219366F}%3B&UIPartUID={D90F22DB-05D4-4644-A8F2-FAD4803C8898}


Novos desoprimidos: Paulo Freire no Globo Ciência


Por: Alexandre Henderson*

O episódio desta semana do Globo Ciência homenageia um dos mais respeitados educadores brasileiros: Paulo Freire. Recife, cidade natal do nosso homenageado, foi nossa primeira parada. Locação: Centro Cultural Dona Olegarinha, prédio que faz parte da história da cidade. Lá morou Dona Olegarinha, conhecida como a "mãe dos pobres", que era casada com o abolicionista José Mariano. Os dois entraram na história pernambucana por ajudarem na fuga de escravos. Neste mesmo prédio, Paulo Freire aplicou pela primeira vez um novo método de alfabetização, que ultrapassava o mero ato de ensinar a ler e a escrever. A pedagogia freiriana promovia também a cidadania e a transformação social.

De Recife seguimos para Curvelo, uma cidade no norte de Minas Gerais. Vimos na prática como a pedagogia de Freire poder ser aplicada. Quem nos recebeu foi Tião Rocha, criador do Centro Popular de Cultura de Desenvolvimento, o CPCD. Nosso entrevistado se definiu como: "antrópólogo por formação, educador popular por opção política, folclorista por necessidade, mineiro por sorte e atleticano por sina". Na gravação, rolou até um jogral na hora de definí-lo. Tião é uma figura extremamente simpática e um apaixonado por educação.

Paixão pela educação

A história dele é bem interessante do ponto de vista da escolha profissional que fez. Ele era professor concursado de Universidade Federal, um funcionário público estável. Abandonou o mundo acadêmico para ser educador. Ele se cansou do universo tradicional da sala de aula com giz, apagador, quadro negro, onde o professor ensina em todos os semestres sistematicamente o mesmo conteúdo. E a troca do aprender é quase sempre unilateral.

Por que Curvelo? Ele cita a frase de Guimarães Rosa "Curvelo é a cidade capital da minha literatura". Tião, um apaixonado pela obra e personagens de Rosa, decide visitar a cidade e investigar personagens a que o autor fazia referências. Mergulhou "in loco" no universo literário e achou um terreno fértil para começar uma nova proposta de educação. Daí surgiu o CPCD. Ele e um grupo de professores se reuniram diversas vezes e discutiram o que a escola não deveria ser, ou seja, ao invés de discutir o que se queria, elencaram o que não se queria. Que escola não queremos? Essa era a pergunta que cada um fazia a si mesmo.

Ao invés de utilizar verbos no infinitivo, listando objetivos como: promover, fazer, realizar, atuar, decidir, dentre ouras formas verbais, o projeto foi concebido com não-objetivos. Por exemplo, a escola tradicional encara a criança como uma página em branco pronta para ser escrita. Já Tião acredita que, mesmo os poucos anos de vida de uma criança, já trazem inscrições de uma vida vivida. Sem contar que num universo escolar, há sempre crianças que têm páginas profundamente tingidas.

A roda é uma figura geométrica de ordem no CPCD, embora a ordem e o dever sejam menos importantes do que o prazer. Tudo começa com o círculo, onde todos se vêem e se escutam. O projeto é dividido de acordo com a faixa etária. O "Sementinha" contempla crianças de 4 a 6 anos. A educação se dá através de brinquedos e bornais de jogos, que são espécies de maletas, contendo um jogo pedagógico em cada uma delas. Tião chama de "pedagogia do brinquedo".

Novo olhar pedagógico

Dos 7 aos 15 anos, a criança é encaminhada ao projeto "Ser criança" que tem jogos pedagógicos, mas adaptados para a faixa etária. Tião nos contou que um menino tinha muita dificuldade em realizar operações matemáticas. Não estava tirando boas notas na escola convencional, entretanto, no projeto, era um 'expert' em um jogo chamado damática, que envolvia dama e matemática. Os educadores perceberam que o jogo, que ele executava tão bem, poderia ser um aliado para que aprendesse matemática. E foi o aprendizado através do jogo que o fez se recuperar na disciplina e o levou à aprovação no final do período letivo.

Cabe frisar que o CPCD não visa a substituição da escola formal, mas propõe um novo olhar pedagógico. O mais interessante nessa história é que o aluno levou o jogo para a escola tradicional e compartilhou com a professora e com os colegas um jeito bacana de aprender a fazer operações e a brincadeira passou a fazer parte do processo de aprendizagem. Ou seja, a professora aprendeu com o aluno um novo jeito de ensinar a fazer cálculos. E o aluno abriu portas do projeto para a escola, propiciando esse intercâmbio.

A última etapa do projeto são as "fabriquetas", que oferecem oficinas de pintura, de cartonagem, doces, madeira, ferro e bordados. Elas propiciam não só o aprendizado, mas também a geração de renda. Já existe, inclusive, a Cooperativa "Dedo de gente" , onde os próprios alunos comercializam seus produtos. E se não há lucro proveniente da venda para uma oficina e ela está no vermelho, as que estão no azul cobrem o prejuízo: são unidades de economia solidária.

Toda a terra utilizada na agricultura é tratada só com humus, sem nenhum agrotóxico. A alimentação também é outro ponto interessante nesse projeto, com a cozinha experimental, onde os produtos colhidos são testados pelas crianças, que criam delícias como biscoitos, sucos e até pratos diferenciados como o bolo de beterraba e de alface que passaram a ser adotados no cardápio diário.

As sementes deram frutos. De Curvelo, esse projeto já se expandiu para outras cidades brasileiras, como Santo André e Belo Horizonte. E o "Ser criança" é hoje política pública, com adoção até mesmo em outros países, como Moçambique. Mais informações em www.cpcd.org.br

Mais do que soletrar

De Curvelo fomos para São Paulo para um bate-papo foi com Nita Freire (foto à direita), esposa de Paulo Freire, nosso homenageado, que nos recebeu em sua residência. Nita se emocionou ao falar de Paulo Freire, lembrando momentos que marcaram o convívio entre os dois. Falou do amor dele pela educação, por Recife, pelas plantas, pelos animais e pelo bicho-homem. Ela é doutora em educação pela PUC -SP e apontou "Pedagogia da autonomia" como a obra que sintetiza o pensamento de Freire. Ela não chama de "método freiriano", mas diz que Freire criou uma certa "compreensão ético-crítico-política de educação."

"Em vez de mera repetição de sílabas, ler o mundo através das palavras." dizia Freire. Ele acreditava que alfabetizar era também fomentar, através das palavras, discussões acerca do mundo e do momento social- histórico-político. As palavras deveriam, portanto, fazer parte do universo de quem aprendia. Como o objetivo era a alfabetização de jovens e, sobretudo, adultos, palavras como salário e trabalho, por exemplo, iam para a sala de aula.

Para além de aprender a separar sílabas, o importante era contextualizar a palavra "salário" em seus vários aspectos, seja econômico, seja social, histórico e político. Moacir Gadotti, doutor em educação e diretor do Instituto Paulo Freire, nosso entrevistado, explicou que o conhecimento deve ser construído com sentido, com contextualização. Ler o mundo, ou seja investigar o mundo. Depois compartilhá-lo ou tematizá-lo e por fim, transformar o mundo, através de problematizações.

Como última etapa, a equipe foi à Universidade do Estado do RJ, a UERJ. Lá conversamos com a doutora em Educação Eloísa Da Silva Gomes de Oliveira, que citou como projetos de educação em massa mais bem sucedidos no Brasil o "De pé no chão", entre 1961 e 1963, o Mobral, em 1971 e o Salto para o Futuro, que foi o precursor da educação à distância e teve início em 1991.

Eloísa destacou o plano nacional de formação de professores, aprovado recentemente. (Mais informações no portal do MEC) e apontou a tecnologia da informação como sendo a grande tendência hoje, incluíndo a educação à distância. O curso de pedagogia da UERJ, por exemplo, é semi-presencial e considerado um dos melhores do país.

O Brasil ainda tem cerca de 14 milhões de jovens e adultos analfabetos, número que pode ser reduzido, segundo a educadora, se houver mais investimento em políticas públicas, maior disponibilidade de vagas, melhores condições de vida da população e inovação pedagógica constante.

*Alexandre Henderson é apresentador do Globo Ciência.

Informe sobre o projeto de Extensão:
Desde o começo do ano fizemos uma chuva de idéias com todos os temas que queremos trabalhar de forma interdisciplinar.
E não é pouca coisa! Então reconhecemos que nos falta metodologia e compreender mais sobre o ato de educar . Na última reunião ficou indicado para que todos nos dedicássemos a leituras sobre pedagogia durante as férias. Paulo Freire foi um dos indicados. Em agosto, as reuniões voltarão a ser semanais. Cada semana uma pessoa será responsável por facilitar a reunião, socializando os principais pontos que o livro estudado trabalhava. Quem se sentir desoprimido para participar, sinta-se acolhido! Saudações Catôtá


Globo Ciência vai ao ar domingo, às 14h.

Um comentário: